sábado, 10 de novembro de 2012

QUALIDADE DAS ÁGUAS DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO GRAVATAÍ

HISTÓRICO
O rio Gravataí é monitorado desde 1980, através da Rede Básica de Monitoramento, operada pelo laboratório do antigo Departamento de Meio Ambiente – DMA, atual Fepam. Em 1989 esta Rede foi suspensa, sendo reatada em maio de 1992.
A partir de maio de 1998 o monitoramento do rio Gravataí foi incluído no Pró-Guaíba – Rede de Monitoramento Ambiental. Neste programa, o projeto de Monitoramento dos Recursos Hídricos é realizado pela Fepam, Corsan e Dmae. Cada entidade é responsável pela coleta e análise do ponto de amostragem sob sua responsabilidade.
Este relatório apresenta uma avaliação da qualidade da água do Gravataí – comparando os dados da qualidade atual e o Enquadramento do rio em Classes de uso, conforme Portaria 02/98 – SSMA, com base na Resolução Nº 357 / 05 CONAMA.
A análise e divulgação destes resultados visam comparar os resultados das análises com a legislação vigente e fornecer subsídios para elaboração do plano de ação de recuperação da bacia hidrográfica do Gravataí – Plano de Bacia, em elaboração.
Foram utilizados apenas os dados gerados pelo Departamento de Laboratório da Fepam.
As águas da bacia hidrográfica do rio Gravataí foram Enquadradas através da Portaria SSMA nº 02 / 98, de 23/01/98 ainda com base na Resolução nº 20/86 do CONAMA.
O Enquadramento determina os seguintes objetivos de qualidade a serem atendidos:

  • Classe Especial: área núcleo da Área de Proteção Ambiental – APA do Banhado Grande;
  • Classe 1: das nascentes do rio Gravataí até a foz do arroio Demétrio, à exceção da área núcleo do Banhado Grande;
  • Classe 2: da foz do arroio Demétrio até a foz do rio Gravataí.
As coletas e análises são realizadas pelo Departamento de Laboratório da FEPAM, e os dados são armazenados e interpretados pelo Departamento de Qualidade da FEPAM.
Em 2005 o monitoramento do rio Gravataí passou a ter freqüência bimestral, e voltou a monitorar mais dois locais: GR 028 (Passo das Canoas) e GR 001 (foz do Gravataí).

DESCRIÇÃO DA ÁREA

A sub-bacia hidrográfica do rio Gravataí possui uma área de 2.200 Km² , o que corresponde a 2,6% da área da bacia hidrográfica do Guaíba, incluindo, total ou parcialmente, os municípios de Santo Antônio da Patrulha, Taquara, Glorinha, Gravataí, Alvorada, Viamão, Cachoeirinha, Canoas (zona sul) e Porto Alegre (parte da zona norte).
O sistema de drenagem é formado por três conjuntos de comportamentos hidráulicos distintos: nascentes, Banhado Grande e curso inferior (ou rio Gravataí propriamente dito).
As nascentes são constituídas por vertentes íngremes no divisor de águas com o rio dos Sinos, em altitudes de até 400 m, recolhendo as precipitações e despejando no Banhado Grande.
O Banhado Grande, que atua como regulador de vazão, originalmente ocupava uma área de 450 km² , sendo reduzido para apenas 50 km² , em função do uso da água para irrigação das culturas de arroz.
O rio Gravataí possui um trecho em canal artificial, construído pelo DNOS na década de 60, iniciando ao final do Banhado Grande até próximo da Olaria Velha, percorrendo cerca de 20 km.
O rio Gravataí é um rio de planície, de baixa velocidade, sinuoso e com muitos meandros. Ao longo do seu curso, de 34 km desde o Passo dos Negros até o delta do Jacuí, a profundidade, a largura e a velocidade da corrente são variáveis, mesmo considerando curtas distâncias. No seu trecho inferior ocorre o fenômeno de inversão de correntes, em função da influência do delta do Jacuí.
Os efeitos do regime pluviométrico da região sul refletem-se na vazão do rio Gravataí, determinando um período de cheia no inverno e um de estiagem no verão. Baseados nos dados das vazões medidos pelo DNAEE no período de 1939 à 1989, na estação de Campo Bom (rio dos Sinos) definiu-se o período de estiagem (novembro a maio) e o período de chuvas (junho a outubro).
A área da bacia do Gravataí apresenta duas regiões com características de ocupação distintas: predomínio da atividade agropecuária na área superior, banhados, e predomínio do uso urbano-industrial no curso inferior do rio. Os usos predominantes das águas são para irrigação de lavouras de arroz (entorno do Banhado Grande e canal do DNOS) e o abastecimento público no curso inferior, além de servir como corpo receptor de grande carga de despejos domésticos e industriais.
Segundo levantamentos da FEPAM (Cargas Poluidoras Lançadas nos Corpos Hídricos do Estado do RS, 1997), as indústrias da sub-bacia do Gravataí geram uma carga orgânica bruta de aproximadamente 2.516 ton/ano de DBO, mas com o tratamento implantado nas indústrias, a carga remanescente lançada é de 1.100 ton/ano de DBO.
Quanto aos esgotos domésticos, a carga orgânica gerada é de 19.524 ton/ano de DBO.

LOCALIZAÇÃO DOS PONTOS DE AMOSTRAGEM
Em 2005 o monitoramento do rio Gravataí passou a ter freqüência bimestral, e voltou a monitorar mais dois locais: GR 028 (Passo das Canoas) e GR 001 (foz do Gravataí).


RIO GRAVATAÍ
CÓDIGO COORDENADAS LOCALIZAÇÃO
GR 001 S 29° 58’ 06”
W 51° 11’ 42”
Foz do Gravataí, Porto Alegre.
GR 006 S 29° 57’ 37”
W 51° 08’ 34”
Jusante da foz do arroio Areia, zona norte de POA.
GR 008 S 29° 57’ 16”
W 51° 07’ 36”
Cachoeirinha, antiga captação, jusante da foz do arroio Brigadeiro.
GR 028 S 29° 57’ 22”
W 51° 00’ 59”
Passo das Canoas, Gravataí.
GR 034 S 29° 57’ 55”
W 50° 56’ 52”
Passos dos Negros, Gravataí
GR 055 S 29° 59’ 21”
W 50° 45’ 37”
Saída do Banhado Grande, Glorinha.
GR 072 CL 000 S 29° 56’ 10”
W 50° 36’ 05”
Arroio Chico Lomã , Sto.Antonio da Patrulha

Quadro 1 – Rede de Monitoramento da Qualidade das Águas do Rio Gravataí – RS.

METODOLOGIA

Para interpretação dos dados foram utilizadas duas metodologias:
- comparação com a Resolução nº 357 / 05 do CONAMA;
- I Q A – Índice de Qualidade da Água.

Para interpretação dos dados comparando com a Resolução nº 357 / 05 do CONAMA, foram utilizados os parâmetros oxigênio dissolvido (OD), demanda bioquímica de oxigênio (DBO) e coliformes termotolerantes, com representações gráficas das concentrações médias anuais e gráficos das freqüências das Classes do Conama, em cada local de amostragem, ao longo do período monitorado.
Serão utilizados também gráficos dos metais pesados as respectivas freqüências das Classes do Conama.
O Índice de Qualidade da Água – IQA utilizado é uma adaptação do IQA desenvolvido pela NSF – National Sanitation Foundation. São apresentados gráficos das médias anuais de IQA para cada local monitorado. A adaptação do IQA foi realizada por técnicos da Fepam, Corsan e Dmae quando da implantação da Rede Integrada de Monitoramento do Rio dos Sinos (1990-1996), através do Comitesinos.


QUALIDADE DAS ÁGUAS

Índice de Qualidade das Águas – IQA

O cálculo dos Índices de Qualidade será anual, tendo por base as médias anuais de cada um dos parâmetros utilizados no cálculo do IQA.
O IQA adotado utiliza as seguintes faixas de qualidade:

NOTA CONCEITO
0 a 25 Muito Ruim
26 a 50 Ruim
51 a 70 Regular
71 a 90 Boa
91 a 100 Excelente

Tabela 1 – Faixas do Índice de Qualidade das Águas – IQA, adotado pelo NSF-National Sanitation Foundation.

O arroio Chico Lomã, um dos formadores do Banhado grande tem apresentado qualidade na faixa de “Regular”, assim como o ponto de amostragem do Canal (em Glorinha), na saída do Banhado Grande. O local denominado Passo dos Negros, ainda à montante da cidade de Gravataí, vinha apresentando queda na qualidade, que foi “Boa” em 1994 e 1995, passou a “Regular” de 1996 à 2000, entrou na faixa “Ruim” em 2001 e 2002, retornando a faixa “Regular” a partir de 2003 até 2008.
O Passo das Canoas voltou a ser monitorado pela Fepam. O IQA desde 2007 a 2008 está na faixa “Regular”.
O local a seguir, Cachoeirinha (jusante da ponte de Cachoeirinha), esteve em queda desde 1992, e a partir de 2000 vem melhorando a qualidade, mas ainda na faixa “Ruim”.
Lembramos que neste trecho entre o Passo dos Negros e Cachoeirinha foram construídas duas Estações de Tratamento de Esgotos (ETEs de Gravataí e Cachoeirinha) através do Pró-Guaíba, mas as ligações prediais na rede coletora ainda não estão concluídas. A recuperação da qualidade se deu a partir de 2002, coincidindo com a implantação das ETEs.
Finalmente, o local de amostragem junto à foz do arroio da Areia, que drena a zona norte de Porto Alegre, está na faixa “Muito Ruim”, com notas inferiores a 25. Em 2007 e 2008 melhorou ligeiramente, entrando na faixa “Ruim”. É o pior trecho do rio Gravataí, com freqüentes mortandades de peixes nos períodos de estiagem.
A Fepam voltou a monitorar a foz do rio Gravataí a partir de meados de 2005, e os resultados indicam a qualidade “Ruim”.
Os dados demonstram que a qualidade das águas do rio Gravataí deteriora ao longo do rio, mostrando claramente a entrada das cargas geradas nos centros urbanos, principalmente de Cachoeirinha, Gravataí, Alvorada e zona norte de Porto Alegre e zona sul de Canoas.


Gráfico 1 – Índice de Qualidade das Águas - IQA, valores anuais dos locais de monitoramento do Rio Gravataí-RS.

QUALIDADE DAS ÁGUAS
Resolução nº 357 / 05 do CONAMA – Conselho Nacional do Meio Ambiente


Concentrações de Oxigênio Dissolvido

O Enquadramento das águas do rio Gravataí tem como objetivo de qualidade a Classe 1 (cor azul) das nascentes (Chico Lomã) até a foz do arroio Demétrio (jusante do Passo dos Negros), e concentrações de oxigênio acima de 6,0 mg/L.
Para o trecho final (arroio Demétrio até a foz) o Enquadramento tem como objetivo de qualidade a Classe 2 (cor verde, concentrações maiores que 5,0 mg/L).
O trecho inicial (nascentes até o arroio Demétrio) apresenta predominância de concentrações em Classe 1, e em alguns anos a média foi superior a 6,0 mg/L.
No entanto, no trecho final (arroio Demétrio até a foz) predominam as concentrações inferiores a Classe 4 (concentrações menores que 2,0 mg/L). As médias anuais apresentam tendências de declínio, em torno de 3 a 2 mg/L. A foz do arroio da Areia apresenta médias anuais inferiores a 2,0 mg/l, situações potenciais de ocorrência de mortandade de peixes.


Gráfico 2- Freqüências das Classes de Oxigênio dissolvido.

Gráfico 3 – Concentrações médias anuais de Oxigênio Dissolvido.

Concentrações de DBO

O Enquadramento das águas do rio Gravataí tem como objetivo de qualidade a Classe 1 (cor azul) das nascentes (Chico Lomã) até a foz do arroio Demétrio (jusante do Passo dos Negros), e concentrações de DBO (matéria orgânica) inferiores a 3,0 mg/L.
Para o trecho final (arroio Demétrio até a foz) o Enquadramento tem como objetivo de qualidade a Classe 2 (cor verde, concentrações entre 3,0 e 5,0 mg/L).
As estiagens ocorridas em 2005 e 2006 aumentaram a concentração de DBO (matéria orgânica).
O trecho inicial (nascentes até o arroio Demétrio) apresenta predominância de concentrações em Classe 1.
O trecho final, durante as estiagens, apresentou médias de DBO superiores 10 mg/L (Classe 4).


Gráfico 4 – Freqüências das Classes de DBO.

Gráfico 5 - Concentrações médias anuais de DBO.

Concentrações de coliformes termotolerantes

O Enquadramento das águas do rio Gravataí tem como objetivo de qualidade a Classe 1 (cor azul) das nascentes (Chico Lomã) até a foz do arroio Demétrio (jusante do Passo dos Negros), e concentrações de coliformes inferiores a 200 nmp/100ml.
Para o trecho final (arroio Demétrio até a foz) o Enquadramento tem como objetivo de qualidade a Classe 2 (cor verde, concentrações de coliformes inferiores a 1.000 nmp/100ml).
O trecho inicial (nascentes até o arroio Demétrio) apresenta predominância de concentrações nas Classes 1 e 2, e médias anuais pouco inferiores a 1.000 nmp/100ml.
No entanto, no trecho final (arroio Demétrio até a foz) predominam as concentrações de Classe 4 (concentrações superiores a 4.000 nmp/100ml), mas alertamos que as concentrações médias anuais estão elevadas, atingindo média anual de até 500.000 nmp/100ml.
Destacamos o ponto de amostragem de Cachoeirinha, onde as concentrações de coliformes apresentam tendência de queda desde 1998. Esta melhoria na qualidade da água, provavelmente é conseqüência da entrada em operação das Estações de Tratamento de Esgotos – ETEs, construídas pela CORSAN através do PRÓ-GUAÍBA,


Gráfico 6 - Freqüências das Classes de coliformes fecais.

Gráfico 7 - Concentrações médias anuais de coliformes fecais.

Concentrações de metais pesados

A atual Resolução CONAMA nº 357 / 05, publicada em 18/03/2005, revoga a Resolução CONAMA nº 20/86, e nesta nova legislação os padrões de chumbo, cobre e cromo total estão agora bem mais restritivos.
As concentrações de metais pesados apresentam análises acima das Classes 1 e 2 (figura 8) para alguns metais como cádmio, chumbo e cobre. Destacamos o chumbo, cujo padrão se tornou mais restritivo na nova legislação.
No entanto, a figura 9 mostra que a maioria destas análises não ultrapassou a Classe 3 , minimizando os problemas para as captações de água (compatíveis com a Classe 3).


Gráfico 8 – Percentual de análises acima das Classes 1 e 2 do CONAMA.


Gráfico 9 - Percentual de análises acima da Classe 3 do CONAMA.

CONCLUSÕES

O rio Gravataí, no trecho entre o arroio Demétrio e a foz, apresenta maior dificuldade em atingir os objetivos de qualidade das águas estabelecidos no Enquadramento.
Destacamos as concentrações médias anuais de coliformes fecais, que atingem até 500.000 nmp/100ml, enquanto o Enquadramento objetiva concentrações de Classe 2, inferiores a 1.000 nmp/100ml.
O trecho final, entre o arroio da Areia e a foz do Gravataí apresenta concentrações críticas de oxigênio dissolvido, e é historicamente o local de maior ocorrência de mortandade de peixes por asfixia;
A comparação entre a qualidade atual e o Enquadramento (objetivo de qualidade a ser atingido) norteará as ações a serem desenvolvidas nesta bacia com vistas a sua recuperação.
A atual Resolução CONAMA nº 357 / 05, publicada em 18/03/2005, revoga a Resolução CONAMA nº 20/86, e nesta nova legislação os padrões de chumbo, cobre e cromo total estão agora mais restritivos.
Finalmente, destacamos que estão ocorrendo melhorias na qualidade das águas no ponto de amostragem de Cachoeirinha. A melhora na qualidade se deve provavelmente à operação de duas Estações de Tratamento de Esgotos – ETEs implantadas pela CORSAN em Gravataí (Parque dos Anjos) e em Cachoeirinha (ao lado da Freeway).
No verão de 2007, devido a forte estiagem, tivemos problemas com a presença de algas e a concentração de matéria orgânica. Medidas emergenciais foram tomadas, como o fechamento periódico de bombas de irrigação para lavouras de arroz.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. FEPAM / DPD, 1998. Qualidade dos recursos hídricos superficiais da bacia do Guaíba - subsídio para o processo de Enquadramento. Simpósio Internacional sobre Gestão de Recursos Hídricos. Gramado.

2. FEPAM Fundação Estadual de Proteção Ambiental / PRÓ-GUAIBA, 1997. Diagnóstico da poluição gerada pelas indústrias localizadas na área da bacia hidrográfica do Guaíba. Porto Alegre.

3. FEPAM Fundação Estadual de Proteção Ambiental, 1997. Efluentes líquidos industriais: cargas poluidoras lançadas nos corpos hídricas do Estado do Rio Grande do Sul. Porto Alegre.

4. LEITE, Enio.H.; COBALCHINI, Mª Salete.; SILVA, Mª Lucia C; ROESE, Ingrid A . Rio Gravataí – RS. Qualidade atual x Enquadramento. XXIIº Congresso Brasileiro de Engenharia Ambiental – ABES. Joinville, 2003.

5. BENDATI, M.M.; SCHWARZBACH, M.S; MAIZONAVE, C.R.M.; BITTENCOURT, L.; BRINGHENTI, M. Avaliação da qualidade da água do Lago Guaíba (Rio Grande do Sul, Brasil) como suporte para a gestão da bacia hidrográfica. Anais do XXVII Congresso Interamericano de Engenharia Sanitária e Ambiental. Porto Alegre, 2000.

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